A XP Investimentos está apostando que o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, manterá uma performance sólida em 2026 com a perspectiva de corte nos juros no Brasil e nos Estados Unidos.
Nesta segunda-feira (8), durante coletiva de imprensa para a apresentação do relatório “Onde Investir em 2026”, Fernando Ferreira, estrategista-chefe e head de research da XP, lembrou como a Bolsa tende a se beneficiar durante o ciclo de corte nos juros norte-americanos.
“Durante os últimos oito ciclos de cortes nos EUA, o Ibovespa em dólares subiu 41,2%, mais do que o S&P e o Russell 2000”, explicou Ferreira.
Para a corretora, o ritmo da política monetária só deve apertar em março, quando se iniciará uma sequência seis cortes consecutivos de 0,5 p.p. levando a taxa Selic para 12% — faixa considerada terminal para a XP.
O documento destaca que o Brasil entra em 2026 com inflação convergindo para a meta, atividade moderada e política monetária em processo de flexibilização.
Segundo o material, o investidor deve se preparar para um ambiente diferente dos últimos três anos, quando o CDI foi um dos principais motores de retorno.
“O CDI não deve entregar a mesma rentabilidade que tivemos no ciclo de juros altos. O investidor precisará diversificar mais para capturar retornos consistentes”, aponta o relatório.
Durante a coletiva, Arthur Wichmann, CIO da XP, afirmou que: “Embora o CDI seja atrativo com os juros altos, ele não é exatamente aquilo que pensamos e foi superado por uma série de ativos”.
A XP projeta que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) continuará recuando nos próximos meses, terminando 2025 em 4,3% antes de recuar levemente para 4,2% ao final de 2026.
Na visão da equipe de analistas da corretora, a desaceleração dos preços abre espaço para cortes adicionais na Selic ao longo do ano. A trajetória depende, porém, de um quadro fiscal estável.
“A queda de juros tende a melhorar as condições financeiras e reduzir o custo do capital, beneficiando ativos de risco”, afirma a XP.
Mesmo ainda relevante no portfólio, a XP afirma que o ciclo de juros mais baixos exige seleção mais criteriosa. O relatório destaca três eixos:
1. Pós-fixados (CDI) — ainda úteis como reserva e liquidez, mas com menor retorno esperado
2. Prefixados — podem capturar ganhos se a Selic cair mais rápido
3. Títulos IPCA+ — proteção real e potencial valorização na curva longa
Na renda fixa, a XP recomenda prazo médio entre cinco e seis anos. Para a analista Mayara Rodrigues, o retorno ajustado ao risco continua atraente na NTN-B e no crédito privado, mesmo com inflação em queda.
A XP aponta que o governo segue pagando caro pela dívida pública, reflexo do descontrole de gastos, o que mantém a taxa real elevada e abre janela para valorização dos papéis atrelados ao IPCA.
Outro ponto citado pela equipe é a possibilidade de diversificar o portfólio com renda fixa internacional.
“Investir em ativos dolarizados reduz a exposição ao risco país e amplia o acesso a oportunidades, considerando que o mercado brasileiro representa apenas cerca de 1% do mercado global”, escrevem Camilla Dolle, head de renda fixa e Mayara Rodrigues, analista de RF.
No relatório, as analistas recomendam alocar pelo menos 15% da carteira em ativos internacionais como forma de proteção e equilíbrio, principalmente para ativos com duration média entre 4 e 5 anos.
“Com a desvalorização do dólar ao longo do ano, reforçamos que a decisão de investir deve considerar a estratégia de longo prazo”, completam.
Com juros em trajetória de queda, a XP aponta a Bolsa brasileira como um dos pilares da estratégia para o ano. A expectativa é de melhora na geração de lucro das empresas e maior apetite por risco.
Durante a apresentação, a corretora traçou três cenários possíveis para o Ibovespa nos próximos anos (pessimista, base e otimista).
Cenário-base: A corretora projeta que o valor justo do Ibovespa para o final de 2026 é de 185 mil pontos (revisaram de 170 mil anteriormente). Entre as justificativas para o número, estão as taxas reais de juros no longo prazo começando a cair e a expansão de múltiplos.
Cenário pessimista: Nesta hipótese, a XP projeta a possibilidade de que os lucros/EBITDA serão 10% menores, os juros reais aumentariam para 8,5%, e os múltiplos comprimiriam para suas mínimas. Com isso, a faixa projetada para o Ibovespa seria de 144 mil pontos.
Cenário otimista: No cenário otimista, a corretora calcula uma relação lucros/Ebitda 10% maiores do que o cenário-base, juros reais em 5,5%, e uma expansão de múltiplos para 12x P/L projetado e 6,5x EV/Ebitda. Nesta projeção, o Ibovespa subiria mais de 40%, alcançando 223.908 pontos.
Setores citados como potenciais beneficiados:
A casa reforça que o Ibovespa pode se beneficiar do fluxo estrangeiro caso o cenário fiscal permaneça sob controle.
Ferreira afirmou durante a coletiva que os fatores domésticos (juros e eleições) desempenharão forte pressão sobre o preço dos ativos. Além da expectativa de Selic caindo para 12%, o estrategista-chefe acredita que se houver avanço nas reformas fiscais e um sinal de estabilização da relação dívida/PIB, pode ser que destrave valor da Bolsa.
Historicamente, a volatilidade do mercado sobe consideravelmente seis meses antes das eleições. Para Ferreira, a queda brusca do Ibovespa de 4,31% na última sexta-feira (5) em meio a possibilidade de Flávio Bolsonaro disputar a Presidência já foi um preâmbulo disso.
“Na eleição de 2022, por exemplo, a volatilidade subiu de forma significativa entre cerca de 36 pregões antes do primeiro turno até aproximadamente 60 pregões após o segundo turno”, escrevem Fernando Ferreira e os estrategistas de ações Felipe Veiga e Raphael Figueredo.
Considerando um horizonte de médio prazo (3 a 18 meses), a XP está posicionada acima do neutro em somente dois mercados: China e países emergentes.
Para a segunda maior potência do mundo, pesa a favor as oportunidades ligadas ao setor de IA. Enquanto para os emergentes as eleições seguem no radar na América Latina.
Para Estados Unidos, Europa e Reino Unido a exposição está neutra, sendo que houve elevação na perspectiva para os EUA. O único país que conta com alocação abaixo do neutro é o Japão, visto que os ativos passaram por forte expansão de múltiplos de longo prazo.
Já para as ações, as preferidas da XP por setor são:
O post XP vê risco eleitoral, mas mantém visão positiva para a Bolsa em 2026 com corte de juros apareceu primeiro em Monitor do Mercado.

